sonho de vinte três de dezembro
Eu não era eu, minha irmã não era minha irmã.
Íamos para uma espécie de pier, havia lá uma loja. As águas do mar eram revoltas, era o que diziam, tinha correnteza.
Nos preparávamos para fazer uma aula de natação. Olhando paro mar eu via marcações de raias de piscina. O mar não parecia muito revolto, mas eu sentia medo de pular lá. Depois de muita conversa com o professor — a quem eu não confiava e sentia uma espécie de malandragem — minha irmã toma coragem e pula, antes de pular ela fala algo do tipo como o mar tem sua hora de calmaria e aquela é a hora que ela precisa pular.
Ainda com medo da situação, e principalmente medo dela não voltar, eu olho para baixo, vejo que onde pulamos a altura é grande, me parece também raso — vejo pedras. Fico com medo, discuto mais com o professor, fico angustiada e desisto. Não vejo mais minha irmã também.
Sinto que ela vai morrer, e vendo todo o cenário que me encontro, tenho sensação que isso é um filme ou um livro que tem um final trágico, pergunto às pessoas ao lado se no enredo desse filme minha irmã morre — elas dizem que sim.
Eu sofro e me angustio sabendo que minha irmã vai morrer. Me sinto também injustiçada; nessa tragédia anunciada onde eu estava com medo e desconfortável com a situação deixaram minha irmã entrar. Vou a pé para casa, nada de minha irmã voltar.
Passam horas, chega a noite, as buscas começam, nossa mãe sofre. Ela fala que desistiram de parar as buscas de madrugada, como se tivesse esperanças pela retomada no outro dia. Mas sei que no filme minha irmã morre.